terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Acabou-se o que era doce...

O dever me chama. A partir de amanhã a coluna De Olho na Capital volta a ser publicada no DIARINHO e reproduzida depois no blog deolhonacapital.blogspot.com.

Antes de encerrar, deixa eu mostrar um negócio que me chamou a atenção. Olhando a foto acima dá impressão que se trata apenas de um grupo de turistas posando para fotos. Mas ao olhar melhor (na ampliação abaixo), a gente nota uma outra coisa...

São turistas japoneses normais, do tipo encontradiço em todos os destinos turísticos do mundo, só que com uma pequena diferença: a agência que organizou a viagem manda, junto, um cinegrafista profissional, com uma câmera de vídeo profissional de alta definição. Ao final da viagem, todos receberão um DVD com um documentário sobre o passeio sem imagens tremidas, nada fora de foco e tudo bem enquadrado (tá, e aí qual é a graça, se o interessante nos filmes de viagem é o toque "Bruxa de Blair"?). Mesmo assim, cada um deles tinha sua câmera pessoal, para fazer jus à fama de fotógrafos compulsivos que os turistas japoneses têm.

Fechar as malas, dar a última examinada no quarto do hotel, pra ver se não esqueceu nada. Fazer alongamento para enfrentar horas de aeroporto, avião, aeroporto, avião... munir-se de reservas extras de paciência...

A sorte é que encontrei, numa lojinha perto do hotel, exatamente o que todo viajante precisa para enfrentar vôos e aeroportos, especialmente em tempos de apagão aéreo. Para um programa de índio, nada como um legítimo cocar de penas de águia.

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Durante alguns dias livrei-me do compromisso diário de fazer a coluna De Olho na Capital. E, para distrair os leitores, mantive, com imagens e comentários sobre viagens, este blog. Em nenhum momento disse que os passeios do Tio Cesar estavam ocorrendo agora, mas é possível que alguns leitores tenham imaginado isto. A estes devo esclarecer que as imagens e comentários que ilustraram este blog são, de fato, registros reais e originais de férias deste que vos fala. Só que não de agora. Enquanto a coluna esteve fora do ar, eu estava em Itajaí, trabalhando. E, de certa forma, viajando de novo, cada vez que tinha que escolher o que colocar no blog. Esta, aliás, é a principal função das fotos tiradas nas férias: ajudar-nos a viajar sempre que as vemos. As férias na Provence foram no ano passado e o passeio pelo Canadá foi em 2003.

Obrigado pela companhia e até amanhã.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

A coluna volta dia 13

Antes que alguém se pergunte que história mais maluca é essa, de voltar da Europa via Canadá e antes que a parte maleducada de mim responda que a viagem é minha e eu faço o trajeto que quiser, devo dizer que, de fato, a grande vantagem destas viagens virtuais e recreativas é que a gente não precisa ficar muito preso à lógica ou ao orçamento.

O Canadá é um lugar que, sempre que puder, visitarei. Assim como Brasília, cidade onde já morei três vezes e onde voltarei a morar, se tiver oportunidade. Tem gente que odeia o Canadá e Brasília. Que não entende qual é a graça de um ou de outro. Mas é assim, a vida. E nessa diversidade de gostos e preferências está a graça da vida propriamente dita.

Acima, a silhueta de Toronto, que só se diferencia de outras cidades cheias de prédios enormes, por causa da sua torre.

Um dos hotéis mais antigos do Canadá e um dos maiores do mundo (tem 1.300 quartos) é o Royal York, hoje administrado pela rede Fairmont. Construído em 1929 diante da estação do trem, fazia parte de uma espécie de pacote: em cada cidade, a estação e um bom hotel. O hotel, é claro, foi construído pela empresa que era dona da ferrovia, a Canadian Pacific. Assim, a vida de quem precisava fazer negócios no Canadá, indo de costa a costa de trem, no século passado, ficava mais fácil.

Graças à Internet, a gente sempre descobre ofertas especiais (pra quem estiver curioso, o site do hotel é este aqui). Por exemplo: no final de semana que passamos por lá (de sábado a segunda), a diária estava igual a hotéis bem menos charmosos e muito inferior a hotéis de mesmo padrão. E ainda tinha uns agradinhos, como jantar e passeios incluídos.

O lobby do hotel, que ainda conserva o brilho do início do século XX, quando foi o hotel mais luxuoso do país.

Vista da janela do quarto. Como não somos clientes freqüentes e ainda estávamos a bordo de um pacote promocional, o andar era meio baixo. Mas não me queixo.

Toronto desenvolveu uma série de artifícios para que as pessoas não sofram com o frio, a chuva e o vento, quando passeiam pelo centro. Desde coberturas que unem prédios e formam galerias, até uma rede de passagens subterrâneas. Sente-se menos frio lá do que em dias de vento sul na Felipe Schmidt.

Ah, as ostras. Imagino que todos vocês saibam que as ostras cultivadas na Ilha de Santa Catarina são ostras do Pacífico. Originárias do mar-oceano que banha o Canadá e o Japão. Pois aí na Ilha elas crescem muito mais rápido do que nas águas canadenses. E não ficam nada a dever em sabor e aparência.

Entre Toronto e o Oceano Pacífico, existem as Montanhas Rochosas. E nas Rochosas canadenses, um dos locais mais interessantes é Banff, que fica perto de Calgary (umas duas horas de carro: nas américas as distâncias são mesmo muito diferentes da Europa, onde em duas horas quase dá para atravessar um país).

No post de ontem mostrei o Emerald Lake e hoje esse aí é o Lake Louise. Lagos formados pelas águas que vêm dos glaciares e das montanhas, que ajudam a compor um cenário de folhinha.

Victoria, lá no oeste canadense, na ponta da ilha de Vancouver, não sei por que me lembra Florianópolis. Decerto porque tem mar, as temperaturas não são excessivamente baixas. Mas também dá uma certa dor no coração, porque eles usam o mar de um jeito que a gente não usa.

Isso aí é no porto de Victoria, que fica no centro da cidade. Se clicarem na foto abre-se uma ampliação e vocês poderão ver que tem um avião estacionado. Que transitam barcos pelo canal. E tem um avião indo pra lá. Que, afinal, a água está integrada à vida urbana. O avião, para decolar e aterrisar (ou seria amerisar?), usa uma área mais aberta, ali perto. Não perguntei se os controladores estão funcionando direito.

Ah, a hora feliz do entardecer, da cerveja e das comidinhas. Em Victoria está acontecendo, há alguns anos, um renascimento das pequenas cervejarias. Nos bares, pubs e restaurantes, a gente encontra dezenas de marcas de cerveja produzidas por ali mesmo. E na da como uma cerveja para acompanhar um linguado do pacífico a milanesa, com aquela casquinha crocante que também leva cerveja.

domingo, 10 de dezembro de 2006

Voltando pelo caminho mais longo

Têm razão os mais velhos quando falam, saudosos, de como seu tempo de juventude era melhor. Em boa parte do século passado, quem quisesse vir da Europa para as Américas teria que pegar um transatlântico, um navio. E passar muitos dias ao mar. Um prato cheio para quem gosta e eu gosto. Mas hoje não se tem mais tanto tempo e a travessia é feita em navios que voam (ou avuam). E que nos despejam no dia seguinte do outro lado do mar-oceano como se fosse uma viagem qualquer. De um continente para outro muda tudo. Ou quase tudo. E a gente nem tem tempo de se preparar direito.

Embora a viagem seja rápida, sempre dá tempo de ler alguma coisa. Como aqueles folhetinhos de segurança. Este aí é de um otimismo insuperável. Significa que, se o avião estiver para bater em algum morrote, basta inclinar-se para a frente e fechar os olhos. A mesma coisa se estivermos para mergulhar. Depois, todos aqueles que ficaram na posição correta poderão levantar-se, sãos e salvos e apresentar-se no portão do Céu ao sempre simpático São Pedro.

Ainda no espírito do folhetinho, deparo-me com esta empresa auxiliar da Air Canada, que faz vôos regionais e que tem o sonoro nome de Jazz. Aqui Jazz. Então tá.

As sacolas de supermercado, a gente aprende cedo, têm mil-e-uma utilidades. Pena que não tinha mais sacolas do Angeloni, ou do Rosa e tive que me virar com uma outra qualquer: as câmeras não são feitas para serem expostas a muita umidade. Algumas até são, mas a minha, com certeza, não. Para proteger o patrimônio e ainda assim conseguir registrar o passeio por um glaciar canadense, num dia em que nevava e parava, o jeito foi improvisar. Os japoneses que estavam em bando, por perto, todos com capinhas especiais em suas câmeras, olhavam meio intrigados, decerto pensando que era alguma inovação. Se eu tivesse mais algumas sacolas, teria vendido algumas pra eles, como a melhor e mais recente proteção para câmeras.

Um breve descanso antes de retornar para o caos aéreo do Bananão. Isto aí, com esta cor esmeraldina, é o Lago Esmeralda. Perto do qual está Banff, aprazível cidade de inverneio (ué, se tem veraneio não teria que ter inverneio?)


Uma das melhores coisas da vida são os amigos ricos. Que podem servir, ao receber-nos em suas casas, preciosidades como este Opus One 1985, um celebrado vinho do vale do Napa, na Califórnia. Foi de lamber as taças. Uma pena vocês não estarem lá.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Paris a € 10

Ao sair da Provence, aprazível e bucólico recanto de boas comidas, bebidas e paisagens iluminadas, caiu-se-me no cocoruto um problema logístico: o horário dos trens do sul da França até a estação do aeroporto Charles De Gaulle e do avião que precisamos pegar não conjuminam. A única chance de não ficar com os horários apertados e arriscados, é sair de tardezinha, dormir em algum hotel dos arredores do aeroporto e no dia seguinte, à noite, pegar o avião para sair da França. Isto nos dá um dia inteiro para gastar.

A estação do TGV de Aix é moderna (é aquele telhado metálico que aparece nessa foto aí, tirada por um satélite e disponível no Google Earth) e funcional. Dali, em poucas horas, a 300 km/h, vamos rumo norte, para a gare CDG.


O aeroporto Charles De Gaulle é enorme. Dá para viver ali um bom tempo (a história original daquele fime com o Tom Hanks, O Terminal, ocorreu neste aeroporto). Dentro do aeroporto tem uma estação ferroviária completa. Pode-se ir para qualquer parte da Europa a partir dali. Tanto em trens convencionais quanto de alta velocidade. E se pode ir a Paris com o trem suburbano, que se integra ao metrô.

Resolvemos gastar o dia dando uma volta em Paris. Não estava nos planos desta viagem perder tempo em cidades grandes. Cidade grande é cidade grande, por mais charmosa que seja. Tem que estar disposto a enfrentar.

Daí tivemos uma idéia: a gente nunca passeou de barco no Sena. O Bateau Mouche (ou outro dos tantos que existem). É um passeio barato, não demora muito tempo e dá para ver ou rever os principais pontos turísticos da cidade. Encontramos um passeio a € 10 por pessoa. Uma hora e pouco. Perfeito. Embarcamos e fomos Paris a dentro, ouvindo a voz chatinha da guia, que fazia uma narração burocrática em francês, mas se desmanchava em rapapés aos norte-americanos na narração em inglês. Não deve ser francesa.

Antes de chegar ao rio e ao barco, uma passadinha nos cartões postais que ficavam no caminho do metrô ( sim, eu sei que o metrô é subterrâneo, mas a gente subia até a superfície, nas estações, pra dar uma espiada, certo?).

Como o dia estava murrinha, nublado, cinza e frio, as fotos ficaram mezza boca. Mas foi um belo passeio. Não precisamos ficar andando, não ficamos cansados e foi curto o suficiente para podermos ir e voltar sem pressa e sem arriscar a perder o avião.

Avião pra onde? Ah, isto é história pra outro dia. Até mais.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Cenários e paisagens

Tem alguns momentos, em alguns lugares, que a gente tem a impressão de estar em Santa Catarina. Paisagens parecidas, certos contornos no horizonte... o mundo, afinal, é mesmo muito pequeno e tudo faz parte de uma mesma bolota.

Mas quando aparecem as ruínas de castelos medievais ou até de construções mais antigas, a gente volta ao “Velho Continente”. Afinal, no Brasil as ruínas são bem mais recentes. Algumas tem até menos de uma década...

Abaixo algumas fotos e pouca conversa porque, quando a gente quer passear com calma, não tem tempo pra ficar na Internet. As frutinhas verdes são, como muitos certamente saberão, as azeitonas. Surpreendentemente, pelo menos para mim, elas não nascem e crescem em vidros de conserva. Nascem e crescem em árvores coloridas por um simpático verde acinzentado.

Fiquem à vontade para clicar nas fotos e abrir ampliações para ver melhor os detalhes. Mais tarde, ou amanhã, vou mostrar no mapa por onde andamos.


quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Arles e os romanos

A relação entre a França e os romanos, dos tempos de Júlio César, ficou indelevelmente marcada na minha imaginação a partir das aventuras de Asterix, o Gaulês. É impossível visitar este circo romano, por exemplo, em Arles, à beira do Ródano, sem lembrar-se daquelas historinhas em quadrinhos. Construído pelos romanos, este estádio ainda é utilizado (em vez de cristãos e leões, são touros e outros animais). Imponente, grandioso, do alto de seus muros dá pra ver praticamente toda a cidade. E para chegar às arquibancadas, circula-se por dentro de suas paredes e entre seus arcos.

Desculpem a imagem grosseira, mas não resisto ao impulso de compartilhar a surpresa com vocês. É o interior de um dos banheiros públicos do circo romano de Arles. Este tipo de louça sanitária, onde o cidadão ou a cidadã fica numa posição organicamente mais favorável ao livre curso da natureza, também era usada no Brasil há alguns anos. Lembro que na década de 60, quando estudei no Colégio Catarinense, em Florianópolis, tinha várias dessas.

É muito comum encontrar este tipo de "moldura" nas casas de comércio. Não sei a antiguidade dessa prática nem me aprofundei nas suas razões, mas o efeito é muito simpático. Se clicarem na foto, poderão ver que se trata de uma loja de galinhas (e outras aves) de cerâmica.

Em Arles, mais precisamente numa casa de saúde, viveu durante algum tempo Vincent Van Gogh. A foto acima mostra o jardim no centro do hospital onde ele esteve internado, que é mantido da forma como aparece em alguns de seus quadros.

Uma pequena pausa para recuperar as energias. E, de sobremesa, experimentar um Crêpe Suzette à moda de Arles.

No caminho para casa, já no final da tarde, passamos por St. Rémy, uma cidadezinha muito interessante, onde resolvemos parar para jantar. Sem ter qualquer indicação, escolhemos esta brasserie da foto, que nos pareceu mais convidativa. Estávamos nas primeiras taças, ainda pensando sobre o que pedir, quando o fato de ter caipirinha no cardápio (com uma descrição, em francês, bem exata do que seja esse drinque exótico) nos chamou a atenção. Dentro do restaurante ouvia-se alguém falar em português ou o que nos parecia ser português.

Quando o garçom veio anotar os pedidos, perguntei se alguém falava português. E aí descobrimos que estávamos num restaurante tocado há cinco anos por uma baiana, que é a chef, casada com um italiano. E quem falava português era o filho, com amigos de outros países lusófonos. Ela veio à nossa mesa matar a saudade da sonoridade da língua materna e jogar um pouco de conversa fora. Contou que conheceu o marido no Brasil e depois veio com ele para a Europa. E, naturalmente, conheciam Florianópolis.

O mais interessante é que, afora a caipirinha, o cardápio e o restaurante são perfeitamente franceses. Resistiu, a nossa compatriota, à tentação de fazer alguma coisa típicamente brasileira. Que, como ela argumentou, talvez não tivesse muita aceitação numa pequena cidade do interior, sem muitos brasileiros por perto. Em muitos lugares, a freqüência desses restaurantes étnicos é fundamentalmente construída por fregueses oriundos da mesma região.